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Uma outra forma de perceber o aprendizado

Quando uma criança tem um ritmo diferente de aprendizagem, comparado ao de outros colegas, muitas vezes o diagnóstico da situação é equivocado e pouco embasado por seus pais, que querem que seu filho esteja “pronto” para o mundo acadêmico. Cria-se uma espécie de competitividade, sem o entendimento das fases de alfabetização e desde a educação infantil, famílias tem essa expectativa de que crianças iriam aprender a ler e escrever logo no primeiro ano.

Mas a educadora Juliana Fernandes buscou mudanças para modificar este quadro, mostrando aos pais como seus filhos aprendem a ler e escrever. O primeiro passo para isso, foi um trabalho de avaliação dentro da escola com as professoras, onde houve a necessidade delas passarem por toda a teorização do que era trabalhado em sala de aula. Com isso, houve encontros de formação sobre este conceito do letramento.

A partir desse momento, começou a mudança na maneira como as professoras trabalhavam dentro de sala de aula: toda a estrutura de atividades mudou, desde o diagnóstico da criança até o processo de avaliação. Mesmo inseridos em um grupo, há uma avaliação do desenvolvimento individual de cada aluno, com trabalho de gêneros textuais, entre poemas, letras de músicas, bilhetes e cartas nos primeiros anos e séries iniciais.

Ainda que este trabalho estivesse sendo feito, as crianças tinham um retorno ruim durante as atividades, como “minha mãe falou que não é assim que se faz”, e a educadora fazia atendimentos com dúvidas iguais. Foi então que surgiu a ideia de trazer famílias para dentro da escola com o projeto “Família e Letramento no Contexto Escolar”. Foram elaborados dois grandes encontros com os pais: um quando os alunos estavam na última etapa da educação infantil e outro já no ensino fundamental 1. No primeiro encontro, as famílias visitaram o prédio do ensino fundamental 1 e conheceram o contexto do letramento. Quando estas mesmas crianças para o primeiro ano, os pais foram convidados a participar de uma oficina de alfabetização. Nessa ocasião, a professora aplicou uma atividade para cada uma das hipóteses de alfabetização.

O resultado foi muito bom, já que quando a professora deu início a apresentação das fases de alfabetização, pais identificaram o que percebiam em casa. A educadora, então, apresentou quais eram as intervenções adequadas, para alunos que ainda não liam e não escreviam direito, até para os que já estavam exercendo as atividades. Isso possibilitou que famílias pudessem sanar suas dúvidas e outras precisaram de atendimento para a apresentação da metodologia da escola. Estes atendimentos individualizados mostraram a necessidade da escrita espontânea da criança porque, muitas vezes, os alunos falavam “a minha mãe soletrou a palavra e eu coloquei todas as letras”. Isso significa que aquela lição de casa não foi produzida pela criança, e sim pelo adulto.

Isso transformou a demanda das famílias em relação à escola. Se antes eram cobranças do tipo “como vocês trabalham?”, o discurso mudou para “como eu devo trabalhar em casa?”. Além disso também é realizado um trabalho de se colocar no lugar dos pais, porque eles não estão errados, eles não são especialistas no assunto e não têm essa obrigatoriedade de entender, e aquela cobrança que as crianças tinham que ler e escrever no primeiro ano foi meio que caindo por terra, porque as famílias entenderam que os alunos têm até os oito anos de idade para se apropriarem do conceito, que não é somente escrever, mas tem todo um conceito de oralidade por trás.

 

Fonte: Porvir 

 

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