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Animação brasileira indicada ao Oscar serve de tema para projeto escolar

‘O Menino e o Mundo’, de Alê Abreu, deu origem a trabalhos que foram apresentados por alunos do ensino fundamental em uma mostra cultural. Leia abaixo o relato da professora Rosângela Queiroz.

“Estou na sala de aula há mais de 20 anos. Sempre trabalhei com projetos, mas o trabalho do ano passado, em especial, mexeu muito comigo. No final de 2014, durante uma conversa na sala dos professores [do Colégio Johann Gauss, em São Paulo], uma colega perguntou se eu já tinha assistido ao filme “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu. Eu já tinha visto alguns filmes desse diretor, mas ainda não conhecia essa animação.

A professora comentou que tinha lido uma notinha em uma revista e achou interessante, mas ainda não conhecia o filme. Enquanto ela falava, outro colega entrou na sala dizendo que já tinha visto no cinema. Ele mostrou uma paixão tão grande, que até nos emocionamos. No dia seguinte, o professor apareceu na escola com o DVD para que pudéssemos assistir.

Logo que vi o filme, pensei na minha turma do terceiro ano. A animação tinha tudo a ver com os conteúdos que iríamos trabalhar em 2015, porque envolvia a visão de mundo deles. O filme mostra um pouco disso, fala da história de uma criança [que deixa sua aldeia em busca do pai] e mostra essa questão da identidade. Dentro da proposta temática sugerida pela escola para aquele ano, que era “À Luz da Reflexão”, fizemos o projeto “Eu e o Mundo”, em que trabalhamos a história de cada um deles.

Começamos o projeto apresentando aos alunos o tema gerador daquele ano letivo, que era trabalhar com o conceito de ideias, mudanças ou até mesmo energia. A partir do assunto sugerido pela escola, explicamos como chegamos ao tema que seria desenvolvido pelos terceiros anos. Após discutir o que cada criança tinha entendido sobre o assunto, assistimos ao filme e fizemos uma roda de discussão. Repetimos isso umas duas ou três vezes, porque sempre conseguíamos captar uma situação nova. Tentávamos estimular que eles falassem qual foi a cena que mais gostaram e o que sentiram.

Durante o ano, também fomos construindo um portfólio com eles. Cada criança tinha o seu e precisava registrar tudo o que estava conhecendo do filme. Aqui no colégio, quando desenvolvemos um projeto, procuramos abranger todas as áreas de conhecimento. Traçamos uma linha do que será desenvolvido em português, matemática, história, geografia, ciências e artes.

Com a trilha sonora do filme, trabalhamos música e os alunos se apaixonaram pelo grupo Barbatuques. Em geografia, vimos a questão do espaço – do quarteirão ao bairro, do bairro ao município. Na matemática, os alunos criaram jogos com percursos temáticos para o personagem Cuca (do filme) percorrer.

Na aula de artes, procuramos relacionar o filme com o trabalho de algum outro artista. Lembramos da artista plástica paulistana Nina Pandolfo, que desenha aquelas meninas com os olhos arregalados. As crianças amaram, fizeram suas releituras e até acharam que a personagem poderia se tornar uma amiga para o Cuca. No meio do caminho também surgiram algumas coisas que foram sugeridas pelas próprias crianças.

Em outubro, apresentamos os resultados do projeto em uma mostra cultural do colégio. Enquanto estavam desenvolvendo o trabalho, os alunos trouxeram uma questão muito forte que era do reaproveitamento de materiais. Com isso, tivemos a ideia de juntar garrafas PET para construir pufs. Eles seriam utilizados para que as pessoas pudessem sentar e apreciar tudo no dia da mostra.

Algumas cenas do filme foram muito marcantes para os alunos. Tem uma que mostra o menininho subindo os degraus de um lugar que ele está morando, que parece ser uma favela. A cada degrau que sobe, ele olha algumas portinhas que representam situações do cotidiano. As crianças não identificaram exatamente o que era em cada portinha, mas elas falaram algumas coisas que imaginavam.

Para representar essa cena na mostra cultural, fizemos várias discussões sobre dificuldades que as crianças encontravam na vida delas. Elas desenharam degraus e fizeram um bonequinho para escrever sobre dificuldades que estavam superando ou que tinham superado na vida. Foi uma parede simples da exposição, mas que emocionou muito as pessoas. As crianças realmente se colocaram naqueles desenhos, na sua forma mais íntegra.

É difícil falar de uma parte do projeto que mais chamou a atenção dos alunos. Eu acho que foi quando construímos um boneco Cuca. Com ajuda da professora Sandra Muths, que desenvolveu todo o projeto comigo, fizemos um boneco com potes plásticos, tecidos e barbantes. Quando chegamos com ele em sala de aula, foi um momento mágico.

Propusemos que as crianças levassem o boneco para casa e fizemos um sorteio. Cada criança cuidava do Cuca por alguns dias e tinha que ensinar alguma coisa da sua vida para ele. Os alunos carregavam o boneco para todos os lugares. Eles levavam para a casa da vó, o almoço, a consulta médica. Quando eles tinham que passar o Cuca para outro colega, escreviam uma cartinha contando o que tinham feito naqueles dias. No final, como isso ficou muito forte, sugerimos que as crianças, com ajuda da família, construíssem um boneco Cuca em casa.

O projeto teve a participação de quatro salas de terceiro ano do ensino fundamental. No dia da mostra cultural, uma produtora executiva do filme nos visitou, porque era tia de uma aluna de outra série e ficou sabendo sobre a mostra. As crianças ficaram encantadas com a presença dela.

Foi uma alegria muito grande saber que “O Menino e o Mundo” foi indicado ao Oscar. Eu já assisti ao filme umas 20 ou 30 vezes, mas sempre descubro coisas novas. Ele traz inúmeras questões. Se a estatueta vier ou não, a indicação já significa que ele foi reconhecido com um material excelente, que pode ser trabalho em diferentes faixas etárias.”

 Fonte: Por Vir

Como usar o cinema em sala de aula?

O cinema é uma arma muito forte. Através deles é possível conhecer mais sobre vários assuntos, inclusive alguns aprendidos dentro de sala de aula. Alguns professores já viram o potencial do cinema e estão usando esse recurso para melhorar o atendimento dos alunos em algumas disciplinas.
Através dos filmes é possível fazer os alunos aprenderem além dos livros, fazer com que eles vivenciem as matérias de forma mais direta e além de ser de fácil entendimento para todos. Você pode usar filmes como um complemento ao material didático convencional. Veja abaixo algumas dicas bem legais para você usar o cinema em sala de aula de forma motivadora e tirar o melhor dos seus alunos nas mais diferentes disciplinas.
Faça o planejamento da atividade: Antes de exibir um filme para os alunos, é necessário realizar um planejamento. Escolha uma obra que seja de acordo com a idade e a série dos alunos. Você ainda pode preparar uma aula introdutória para que a classe consiga ter uma compreensão maior sobre o contexto do filme.

O tempo da aula deve ser levado em conta durante a escolha do filme: O filme precisa estar de acordo com o horário da aula. Em muitos casos, os curtas podem ser uma boa alternativa, mas os longas também podem ser exibidos desde que se tenha um planejamento adequado. Inclusive, alguns filmes têm conteúdos interdisciplinares que podem ser trabalhados durante diferentes aulas. Mas se o tempo não for suficiente, divida o conteúdo em duas aulas ou exiba apenas alguns trechos. Mas preste atenção: alguns filmes podem ser cortados, outros não. Em histórias que envolvem suspense, por exemplo, uma quebra pode ser prejudicial.

A exibição deve ser acompanhada de um debate: Após exibir o filme, uma boa sugestão é fazer uma discussão sobre a obra com os alunos. Essa discussão é essencial para a construção do conhecimento dos alunos acerca do tema. Se não sobrar tempo para realizar esse debate, o educador pode levantar algumas questões de reflexão e retomar o conteúdo na próxima aula. O debate pode ir além do tema proposto no filme e estabelecer relações com as matérias trabalhadas em sala de aula. Além disso, também é possível usar a obra para fazer uma discussão sobre a própria linguagem audiovisual, observando a estrutura narrativa, construção do roteiro, cenas e planos de filmagem.

As obras audiovisuais podem proporcionar releituras: Você pode propor trabalhos relacionados as artes plásticas com seus alunos, baseado no filme que eles assistiram. Além disso, você pode propor que os alunos façam uma peça de teatro inspirada no filme ou ainda, uma releitura em forma de curta metragem.

A escolha dos filmes deve levar em conta a classificação indicativa: Antes de exibir um filme, os professores devem olhar a classificação indicativa e observar se o conteúdo está adequado para a faixa etária dos seus alunos. Caso os pais façam alguma reclamação sobre o filme, o professor tem  como afirmar que usou os parâmetros de classificação etária do Ministério da Justiça.

As atividades não devem adquirir o peso de uma obrigação: As atividades propostas pelos professores não devem criar nos alunos experiências traumáticas com os filmes. Em nenhum momento a atividade deve adquirir o peso de uma obrigação. Se assistir ao filme se tornar uma tarefa chata o aluno irá perder todo o interesse. Quando o professor pede uma redação sobre a mensagem do filme, por exemplo, ele acaba limitando o aluno de dar a sua opinião e o seu ponto de vista sobre a obra, pois isso passa uma ideia de que só existe uma resposta correta. Cada aluno irá ver o filme de uma forma diferente e é isso que deve ser explorado.

As sessões de cinema também podem ser realizadas fora do horário de aula: Que tal organizar sessões de cinema como um cineclube na escola? Esses projetos ajudam a criar um ambiente de diálogo que incentiva o interesse dos alunos. Eles podem selecionar diversas obras para exibições e discussões dentro da escola. Esses projetos também podem ser abertos para toda a comunidade, integrando pais e moradores locais.